AGACHAMENTO: A CONTROVÉRSIA.
- Helder Tavares
- 12 de out. de 2015
- 4 min de leitura
A algum tempo, vários experts do exercício, biomecânica e Cinesiologia tem discutido sobre a segurança e a validade de se realizar o agachamento a fundo. Porém o agachamento completo ou a fundo, é amplamente utilizado no treinamento de várias modalidades competitivas, sendo incluído como uns dos exercícios mais eficazes para o condicionamento do “core” (do inglês núcleo), que não se limitam a população atlética, dada a sua capacidade de melhoria de força e coordenação dos grupamentos musculares de todo corpo é considerado um dos exercícios que mais contribuem para qualidade de vida (SCHOENFELD, Squatting Kinematics and Kinetics and Their Application to Exercise Performance., 2010). O agachamento pode ser realizado em diferentes graus de profundidade, geralmente referidos como grau de flexão do joelho, geralmente classificados em três tipos principais: (1) agachamento parcial com flexão de até 40° do joelho; (2) meio agachamento com flexão do joelho entre 70 e 100°; (3) agachamento completo ou a fundo com flexão do joelho acima de 100° (SCHOENFELD, The Biomechanics of Squat, 2011). A controvérsia sobre a execução do agachamento completo surgiu com Klein em 1961 quando escreve seu artigo:
Klein K. The deep squat exercise as utilized in weight training for athletes and its effects on the ligaments of the knee. JAPMR. 15(1):6 – 11.
1961.
Klein demonstrou que indivíduos que realizavam o exercício de agachamento completo apresentavam uma maior frouxidão nos ligamentos colaterais e cruzados do que aqueles que não o realizavam (KLEIN, 1961, vol 15 n° 1). Isso fez com que diversas instituições, escolas, centros de treinamento e até mesmo a marinha americana retirassem das suas rotinas de treinamento com pesos o agachamento completo. Porém isso foi amplamente refutado por vários autores e instituições de treinamento como a National Strength and Conditioning association Journal, que em 1991 produziu um posicionamento sobre o uso o agachamento como exercício para o condicionamento atlético (CHANDLER & STONE, 1991) chegando as seguintes conclusões:
1 – O agachamento, quando realizado corretamente e com SUPERVISÃO apropriada, não é apenas seguro, como pode apresentar impedimento significante das lesões do joelho;
2 – O exercício de agachamento é um importante componente do programa de treinamento para a melhora da habilidade do atleta em estender seus joelhos e quadril, melhorando consideravelmente sua performance em diversos esportes;
3 – Treinamento excessivo, lesões de “overuso” e problemas relacionados a fadiga, que ocorrem com o agachamento. São consistentes com as lesões verificadas para qualquer tipo de esporte ou treinamento;
4 – Não existe detrimento para o joelho quanto o exercício de agachamento é realizado de forma correta;
5 - O treinamento de pesos, incluindo o exercício de agachamento, fortalece os tecidos conectivos, incluindo músculos, ossos, ligamentos e tendões;
6 – A forma correta depende do estilo do agachamento e os músculos que serão condicionados. O balanço na posição baixa para auxiliar a faze ascendente é contraindicado.
7 – Apesar das forças compressivas na coluna serem significativas, a lesão potencial é baixa com a TÉCNICA e a SUPERVISÃO apropriada;
8 – Relatórios conflitantes existem sobre o tipo, frequência e severidade das lesões relacionadas ao exercício com pesos. Alguns relatórios de alta taxa de lesões podem ser baseadas em amostras tendenciosas. Outros tem atribuído lesões ao treinamento de pesos, incluindo o agachamento, que podem ter sido causados por outros fatores;
9 – lesões atribuídas ao agachamento podem ser o resultado não do exercício por si, mas da TECNICA inapropriada, anormalidades estruturais pré-existentes, outras atividades agregadas, fadiga ou overtraining;
Essas evidências estão baseadas nas forças incidentes sobre a articulação do joelho, tanto forças compressivas quanto forças de cisalhamento (deslizamento) que atuam sobre ele (CICCONE, DAVIS, BAGLEY, & GALPIN, 2013). Ligamentos, principalmente o cruzado anterior e o posterior, estabilizam o joelho regularizando as forças de cisalhamento, enquanto os tecidos macios (cartilagem articular e meniscos) absorvem as forças compressivas e estabilizam a interação entre os côndilos femorais e o platô tibial (SCHOENFELD, Squatting Kinematics and Kinetics and Their Application to Exercise Performance., 2010). As forças de cisalhamento sobre o joelho durante o agachamento acontecem no sentido transversal (rotacional) e sagital (ântero-posterior), forças que são primariamente absorvidas pelos ligamentos cruzados (figura 20).

Os ísquiotibiais atuam, nessa posição em particular como sinergistas, promovendo na articulação do quadril sua extensão e na do joelho realizando uma tração que resiste a força de cisalhamento ântero-posterior aliviando a tração sobre o cruzado anterior (SCHOENFELD, Squatting Kinematics and Kinetics and Their Application to Exercise Performance., 2010). As forças de compressão patelofemoral e tíbiofemoral aumentam com o aumento da flexão do joelho, minimizando as forças de cisalhamento. Fazendo com que, apesar do aumento das forças de cisalhamento em ângulos acentuados de flexão, as forças de tração sobre os ligamento cruzados diminua nessas angulações (CICCONE, DAVIS, BAGLEY, & GALPIN, 2013).
BIBLIOGRAFIA
KLEIN, K. (1961, vol 15 n° 1). The Deep Squat Exercise as utilized in weigth training for athletes and is effectos on ligaments of the knee. JAPMR, 6-11.
SCHOENFELD, B. J. (2010, December 2). Squatting Kinematics and Kinetics and Their Application to Exercise Performance. Journal os Strength and Conditioning Research, pp. 3497-3506.
SCHOENFELD, B. J. (2011). The Biomechanics of Squat. National Strength and Conditioning Association.
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